Como dizer adeus aos nossos bichinhos

A difícil arte de dizer adeus aos nossos bichinhos

Era uma quarta feira, daquelas comuns de Agosto. Eu acabava de terminar um longo e turbulento relacionamento, no auge dos meus 23 anos e junto com minha irmã, decidimos pegar uma cachorra. Nossos pais não queriam, digamos que minha irmã passou 13 anos pedindo um cão é sempre ouvia não! Foi aí que fomos escondidas buscar aquela que seria nossa fiel escudeira, a Bia! Meu pai abriu a porta da cozinha naquela noite e a bolotinha de pelo correu para seus pés. Fomos dormir em nosso quarto e a levamos. No dia seguinte, na hora da minha mãe acordar minha irmã para ir pra escola, abriu a porta e se deparou com a Bibiquinha. Foi amor à primeira vista. Dela por nós, que nos escolheu em meio a uma ninhada e nossa por ela.

Anos se passaram, eu dei “até logo” para ela quando fui morar em Recife, depois quando casei pela primeira vez, afinal, meus pais sempre diziam que nós podiamos sair de casa, mas a Bibiquinha? Ah, ela não! Logo vinha as justificativas: quem vai cuidar? Quem vai passar o dia inteiro com ela? Desculpas daquelas de quem não quer assumir, mas não vive sem, sabem? Pois é, até logo, havia dado algumas vezes, mas dizer adeus, nunca tinha pensado em dar, mesmo sendo nossa única certeza! Sabe quando você acredita que as coisas boas podem ser eternas? Pois é, por isso, dar adeus é tão difícil e a pergunta sempre vem: como dizer adeus aos nossos bichinhos? Como ensinar as pessoinhas a darem Como dizer adeus aos nossos bichinhos?

Clara foi a primeira criança da família, a primeira que a Bia teria contato quase que diariamente. De repente, a Cachorrinha acostumada com todos os mimos, tinha que dividir espaço e atenção com uma bebê. O começo, por incrível que pareça, foi tranquilo. Rolou alguns carinhos mais fortes e algumas mordidinhas de reflexo, mas foi tudo tranquilo. Quando Clara entendeu o que era a cachorrinha foi uma farra só! Era ela engatinhando atrás da Bia, Bibiquinha fugindo, mas querendo estar perto….. Clara dormia e ela ia dormir perto. Clara deixava os brinquedos no chão e ela ia dormir sobre eles. Clara chorava e ela se desesperava. Clara chegava e ela queria carinho e festejar a pessoinha.

O desespero da Bia, agora em Dezembro ao ver a Clara super doente era surpreendente. Ela parecia barata tonta em casa, indo de um canto pro outro, chamando nossa atenção para irmos ver a pessoinha. Atitudes estas, que por exemplo, a Astrid não tem com a pequena, mesmo morando debaixo do mesmo teto. Por mais que a Clara se esforce, a Astrid deixa claro que é nossa, minha e do Marido, e é atrás de nós que ela sempre vem.

Bia estava bem, correndo atrás da Clara pra comer a maçã que ela tanto gostava, pra disputar a melancia do café da manhã, pra comer todos os pepinos e tomates antes de temperarmos para nossa salada. Ela estava sadia, bem cuidada, no auge de seus quase 14 anos…. até que um dia, há 15 dias vimos um vermelhidão em suas tetinhas. Corremos no mesmo dia para o Veterinário!

Escutamos o que não queríamos, começamos o medicamento, colhemos sangue. Passaram 6 dias, ela perdeu o apetite. Consulta com oncologista Veterinária, veio a pancada no peito: Bia tem no máximo 12 semanas de vida, pois ela está com um tumor mamário terminal, já acometeu os rins e ela também tem uma cardiopatia! Dor, desespero, impotência, choros, lágrimas. Como sobreviver a difícil arte de dizer adeus para nossa cachorrinha? Como explicar para a Clara que a Bia ia embora pra sempre?

Anteontem, em um dia em que a Bia já aparentava estar muito ruim, comecei o assunto:

 – Clara, a Bia tá muito doente!

– Da remédio, mamãe!

– Esse dodói é muito feio e chato!

– Mas leva ela no médico, ué?

– Filha, acho que a Bia vai morar longe de todos nós, ela vai lá pro céu…

Antes mesmo de eu terminar:

– Ela vai morar com a Bisa Ide?

– Vai, meu amor! Vai virar estrelinha igual a Bisa!

– Eu não quero morrer e não quero que você morra, mamãe!

– Fica calma, Clara. Agora chegou a hora da gente se despedir da Bia, nossa cachorrinha.

Tirei o assunto do foco, por mais que a tristeza estivesse e está presente em nós, adultos. Mas não posso fazer com que uma criança de 4 anos sofra da forma como eu estou sofrendo. A difícil arte de dizer adeus pode ser aprendida aos poucos, conforme ela for crescendo.

– Mamãe, mas sabe, a Bia virou estrela como a Bisa Ide, e a gente vai ter o outro cachorrinho fofinho que já tá chegando. Eu também empresto ele pra vovó não chorar, tá?

Ao mesmo tempo que ela está triste, está ansiosa pra chegada de seu cachorrinho, um presente que ganhamos antes mesmo da Bia ficar doente e eu fiquei super empolgada na época! Agora, além de empolgação, sinto um pouco de alívio, pois, apesar da Bia ser insubstituível para nós, para a pessoinha, vai ocupar um novo espaço. Ela terá seu novo, fiel e melhor amigo peludo. É, o cara lá de cima parece saber mesmo das coisas.

A difícil arte de dizer adeus aos nossos bichinhos

Bibiquinha, minha York mais vira lata do mundo, fique aí, em um mundo cheio de paz, alegrias e coisas que você gosta! Aposto que você já acordou, cheia de apetite, está devorando todas suas frutas prediletas, correndo atrás dos passarinhos e tirando altos cochilos em uma caminha fofinha! Na minha crença, ainda vamos nos encontrar e espero que você esteja junto com a Vovó Ide! Te amo, minha pretinha!

Beijos

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